quarta-feira, 28 de julho de 2010

Canada awaits you...


 Ela chegou e logo foi se deitar no colchão que estava na sala desde a noite anterior. Sem muita cerimônia disse que estava lá para se despedir. Não havia me dado conta de que estava próximo, tão próximo. Ficar contando os anos de companheirismo não é algo que acho muito legal de se fazer, pois muitos anos talvez não digam nada e poucos, digam muito, mas enfim... Acho que dessa vez, seis meses seriam muito.
 Conversamos sobre nada, o nada mais especial que poderia haver. Ela era discreta, falava num tom baixo e calmo. O dia estava nublado, perfeito para aquela ocasião. Algumas ligações interromperam nosso diálogo, mas nada demais. Estávamos tranqüilas, mas hesitantes, sabíamos que aquela seria a última vez, as últimas risadas, conversas bobas e hipérboles da boca pra fora.
 Nossas preocupações, confissões, declarações. Nossos amores, dores e sabores. Nossa vida. Meu verão. Ela era meu verão. Não sou o tipo de pessoa que gosta de calor, muitas pessoas, axé e praia, mas ela fazia com que tudo ficasse suportável, mesmo quando saía à noite e eu ficava em casa vendo TV. Agora ela iria ver neve e eu ficaria no frio.
 Minha garganta começou a arder, mas eu não podia chorar, não naquela hora. Seria ridículo.   Quero que ela seja feliz, aproveite, se divirta, chore de saudade, chore de emoção, tire fotos, coma sorvete no inverno, conheça pessoas novas. Quero que ela viva.
 Não demos conta de como tudo se tornou tão especial. Quando percebi, já éramos uma da outra, de um jeito que não tinha mais volta. Com todos os defeitos, paranóias e crises. Trocávamos roupas, sapatos, perfumes, bilhetes, maquiagens, beijos e abraços. Agora a única coisa que trocaríamos seriam mensagens no Messenger, e-mails no Yahoo e visualizações no Skype.
 Mais uma ligação e ela precisava ir, precisava se despedir de mais gente, pegar documentos, comprar coisas. Um abraço, um adeus e minha garganta começou a arder novamente. Não queria ser boba e chorar, iria dizer mais alguma coisa, mas se o fizesse cairia em prantos. Preferi manter o olhar e dar um joínha.
 Ainda havia outra chance. No domingo. Ela estaria no aeroporto, seria difícil pra mim, mas eu não queria ficar. Queria poder ver seus cabelos pretos sumindo pelo corredor de paredes beges. Seria minha última chance e eu não queria jogá-la fora.

***





Emanuelle Leite Cordeiro, minha prima, meu exemplo. Desde pequena eu sempre querendo ser você, mas o tempo nos ensinou que era preciso as diferenças para ser um. Aprendemos que o branco precisa do preto, que a banana split do sorvete de chocolate, que o macarrão do molho branco, que o brilho do opaco, que o grito do silêncio, que as festas dos livros, que o salto do All Star sujo, que eu de você. Você vai, mas eu vou ficar, ficar e esperar até o dia em que você irá atravessar o corredor de paredes beges e voltar pra vida que fica aqui. Eu te amo e espero que você viva a vida que eu te garanto, é bem melhor do que a que vivemos. Vai com Deus. ♥

2 comentários:

  1. Ai, mais que lindo D: Nossa, muito lindo mesmo, Gabi *-* Saudade é um negócio agoniante mesmo.

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  2. Gabi, que saudade disso aqui. É mesmo muito difícil ter que se despedir de quem a gente gosta, mas com o tempo a gente aprende que aquilo é o melhor para aquela pessoa, e a gente vai vivendo e matando a saudade quando dá. Espero que você fique bem. Beijos

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